segunda-feira, 23 de julho de 2012

A Casa dos Cariris 2 (22/02/2011)


ARTE E LEITURA
“La fiesta es la categoría primera e indestructible de la civilización humana. Puede empobrecerse, degenerar incluso, pero no puede eclipsarse del todo."
"...en los días de fiesta, las puertas de la casa son abiertas a los invitados..;en tales ocasiones, todo es distribuido profusamente..,los deseos de felicidad de todo tipo subsisten aún (si bien han perdido casi su valor ambivalente) así como las promesas, los juegos y camuflajes, la risa alegre, las bromas, danzas, etc."
"Es la fiesta la que, liberando de todo utilitarismo, de todo fin práctico, brinda los medios para entrar temporalmente a un universo utópico."
"No es posible reducir la fiesta a un contenido determinado y limitado (por ejemplo, a la celebración de un acontecimiento histórico), pues en realidad ella misma transgrede automáticamente los límites."
"Tampoco se puede separar la fiesta de la vida del cuerpo, de la tierra, de la naturaleza, del cosmos."

BAKHTIN, Mikhail. La cultura popular en la Edad Media y en el Renascimiento. Madrid: Alianza, 1998. (Versão em português: BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: Hucitec, 1993).


ARTE & GASTRONOMIA EM FOCO
Casa dos Cariris
Many hapennings in 3 parts
Parte 2.

Uma cordinha com um peso amarrado na extremidade que dá para o lado da rua ao ser puxada sacode um sininho preso na extremidade oposta e desempenha a função de campainha. Felipe Ehrenberg se apresenta e faz as honras da casa.
Na ante-sala um casal de esqueletos sorri placidamente para os visitantes. Trata-se de uma obra produzida em 2000 por Leonardo Linares. Seu pai Pedro Linares López (1906-1992) é reconhecido como criador do “alebrije”, um tipo característico de artesanato mexicano, confeccionado com diversos tipos de papel ou madeira talhada, pintado com cores alegres e vibrantes para compor figuras híbridas de animais. Pedro contou que em uma ocasião, na qual estava muito doente, sonhou com estas criaturas que gritavam repetidas vezes a palavra “alebrije”, e por isto deu a elas este nome. Pai e filho participaram com suas obras da exposição “Magiciens de la Terre” em 1989 no Centre Beaubourg.
Dentre as obras espalhadas, diversas são da autoria de Felipe, que utiliza seu próprio espaço para divulgar seu trabalho.
Ao penetrar no recinto principal no qual estão integradas sala de estar, de jantar e cozinha ao fundo, logo de início, fixo na parede do lado esquerdo encontra-se uma tapeçaria confeccionada com a técnica de Bayeux pelo TNT (Tailler Nacional del Tapiz). O nome da obra é “Este tapiz es más mexicano que el nopal”. Há 25 anos, o local comissionava artistas para fazer desenhos no tear e produzia 6 exemplares. Um deles era reservado ao artista criador, e a venda dos outros lhe proporcionava um ganho adicional. A confecção de um tapete destes podia levar até dois meses para ser concluída. Em outra parede, uma técnica mista de desenho com pintura, também de sua autoria, chama a atenção. Trata-se da “Niña muerta 1”. Ao perguntar o que significava aquele trabalho Felipe explicou que se tratava de um “anjinho”. Segundo uma tradição que existia na Itália, França, Portugal e outros países da Europa, bebês que morriam antes de serem batizados eram chamados assim e uma pintura dos mesmos era encomendada. Este era o bebê do vizinho de Felipe, de Antônio Caballero, pai de quatro filhos. O quinto morreu antes de ser batizado e o pai solicitou que Felipe pintasse o bebê. Foram feitas três versões. Antônio escolheu uma e deixou as outras para Felipe. “Niña muerta 1” é uma obra das obras de arte contemporânea que foi apresentada em uma antologia de “anjinhos” no mais antigo museu do México, o Museo de San Carlos.
Um “vitrolero”, vaso de vidro artesanal, está apoiado sobre uma mesinha de centro em frente a um confortável sofá onde as pessoas esperam a sua vez de serem encaminhados para uma das mesas. Iguanas em madeira, galos de briga em fibra natural, uma variedade de imagens e objetos misteriosos habitam o lugar com suas histórias. Na parede está fixa uma peça curiosa que Lourdes identificou como “árvore da morte”. Apesar de ser um objeto artístico, se vende como artesanato. A fronteira entre estas duas categorias de objeto às vezes revela-se muito ambígua. Aliás, Felipe salienta que existe uma simbiose acentuada entre artistas e artesãos que muitas vezes são parceiros na produção de obras contemporâneas. Ele mostra como exemplo disto um espelho que concebeu a quatro mãos de aproximadamente 30 x 40 cm cuja moldura contém diversos escorpiões incrustados. Este foi o resultado de uma iniciativa dos artesãos de Oaxaca que convidaram diversos artistas a criarem espelhos para serem fabricados e vendidos com o intuito de arrecadar dinheiro para o restauro de uma igreja.
A cozinha tipicamente mexicana, com todos os utensílios tradicionais à mostra, é integrada ao espaço onde estão distribuídas as mesas de diversos tamanhos nas quais as pessoas se acomodam para fazer as refeições. Tudo é muito colorido e peculiar. Uma miniatura confeccionada por Pepe Valdez, outro artista mexicano amigo do casal que se inspirou em Lourdes, toda pintada e desenhada com delicadeza e poesia, contém peças garimpadas especialmente para composição de uma cozinha. Do mesmo autor, um pouco mais adiante, está uma pintura de San Pasqual Bailon inspirada nos impressos habitualmente produzidos para agradecer aos santos por graças concedidas. Ao lado, uma Nossa Senhora de Guadalupe não podia deixar de estar presente. No alto, “bandeirinhas” de papel colorido recortado presas em barbantes esticados como varais, se agitam suavemente com a brisa que entra pela porta e pelas janelas abertas acentuando o clima de festa. Elas são muito utilizadas no México para enfeitar espaços em dias de celebração.
Os afortunados que participam dos eventos promovidos na CASA DOS CARIRIS se surpreendem ao descobrirem que dentre todos os maravilhosos objetos de artesanato mexicano espalhados pela casa estão preciosidades brasileiras. Sim, porque como bem observou Lourdes, não só o artesanato no mundo inteiro tem aspectos comuns que o tornam semelhante, como também o casal, ao adquirir estes objetos, o faz guiado por uma ressonância que encontra dos mesmos com sua própria cultura.
Móveis, objetos e trabalhos são remanejados de tempos em tempos, o local é atualizado conforme a produção de Felipe, as novas aquisições e o estado de espírito do casal, fato este que corresponde ao movimento natural da vida e possibilita pequenas surpresas e novas descobertas a cada visita.
Os últimos convidados, depois de degustarem a exótica e saborosa refeição preparada com muita inspiração por Lourdes, antes de deixarem o local, têm a possibilidade de visitar o ateliê do artista.
Ainda quer mais? Leia a próxima coluna na semana que vem...

Se você deseja entrar em contato com A CASA DOS CARIRIS o e-mail é: guisandeira@gmail.com
Para conhecer melhor a produção do artista Felipe Ehrenberg visite o site: www.ehrenberg.art.br

ARTE IMPERDÍVEL
Ocupação Haroldo de Campos – H LAXIA na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Av. Paulista 37, tel 3285-6986 (metrô Brigadeiro) - 3ª a 6ª,10h/20h; sab. e dom., 10h/18h. Grátis. <http://www.poiesis.org.br/casadasrosas/>. Até 10/04.

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