segunda-feira, 23 de julho de 2012

Todo Errado (2010)

TODO ERRADO
Canção popular de Jorge Mautner

Analise introdutória baseada em Greimas

A temática utilizada na canção TODO ERRADO, de acordo com a classificação de Greimas no Discurso das Paixões é a Persuasão passional. Nesta melodia o discurso foi criado para abordar a questão das paixões.
O título “Todo errado” da canção indica já de imediato tratar-se de um drama, de uma disjunção. O actante é o sujeito que se apresenta na 1a pessoa (eu). O objeto é sugerido, mas está omisso. Sua presença indireta se faz sentir pelo estado de um segundo objeto que na verdade é o próprio sujeito: o coração do narrador. Aparentemente defensivo, o autor na verdade acusa o ser amado pelo estado de seu coração maltratado.
Jorge Mautner se vale de diversos mecanismos para criar as tensões características desta temática. Ele explora a inversão de papéis no discurso, atitude tão freqüente nos jogos amorosos. De “culpado” já que se supõe alguém lhe cobrando desculpas, ele se torna a vítima. Contradições tais como dizer que não tem culpa, mas admitir ter uma obsessão, chamar o coração de psicótico e neurótico e negar o pedido de desculpas, provocam uma atmosfera ambígua de sutil ironia em tom de mágoa e ingenuidade. A obsessão e teimosia são marcadas pela redundância de algumas palavras como “desculpa” e “perdão” e repetições tais como: “não não é minha culpa esta minha obsessão”, e pelas rimas que marcam a repetição. Aliás, as locuções negativas freqüentes em toda a letra somadas à rima “ão” conferem uma maior veemência ao protesto. A omissão do objeto é uma forma indireta de negação coerente com a queixa e mágua do sujeito. O som do violino agudo e arrastado associado às rimas de vogais prolongadas no final dos versos como gemidos, e o ritmo ondulatório intensificam a passionalização e a lamentação (exemplo: “eu não peço desculpaaaaaaaaaas e nem peço perdãaaaaao” e “já não agüento maaaaaaaaais”). A interpretação com malabarismos de voz acentua a dramatização. A imagem trazida pela comparação do coração a um “vermelho balão rolando pelo chão” é reforçada pela ênfase que Mautner dá na pronuncia do r (“verrrrrrrrmelho” e “rrrrolando”). A marcação rítmica dada pelas consoantes nas palavras do refrão “psicótico, neurótico” sugere batidas determinadas de um coração que quer ser ouvido e atendido em suas necessidades. A narrativa propicia uma visualidade colorida da situação, pueril e divertida, apesar do contexto doloroso. O gerúndio prolonga a cena surreal deste coração sofredor descendo ladeira abaixo.
Todos estes mecanismos em que o autor estabelece paralelos entre os significados, a estrutura do texto, a sonoridade das palavras e das rimas e a melodia têm como objetivo persuadir a cruel responsável pelo estado do coração maltratado que ela é CULPADA da situação! No final, as duas vozes, a de Mautner e a de Caetano se unem na persuasão.
Monique Allain Fevereiro 2010



TODO ERRADO
3:50 
Jorge Mautner

Eu não peço desculpa
E nem peço perdão
Não, não é minha culpa
Essa minha obsessão

Já não agüento mais
Ver o meu coração
Como um vermelho balão
Rolando e sangrando
Chutado pelo chão
Psicótico, neurótico, todo errado
Só porque eu quero alguém
Que fique 24hs do meu lado
No meu coração,
Eternamente colado
No meu coração,
Eternamente colado

Vozes: Caetano Veloso e Jorge Mautner
Bateria: Domenico
Guitarra e violão de aço: Pedro Sá 
Violino: Jorge Mautner
Hammond: Pepe Cisneros
Baixo: Kassin


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